Pouco cabe-me saber o que está por vir, ou quase nada. Caso soubesse, tampouco poderia fazer algo. Não me foi atribuída a capacidade de controlar o sorriso, nem os olhos fixos, menos ainda as mãos... Não estaria tão certa mesmo diante de tanta incerteza, se pudesse eu interferir.
No entanto, pouco reclamo dos ocorridos e ainda atrevo-me a sonhar. Meto-me a deliciar com o acaso; com o acaso do que há de vir, com o acaso do que já se foi. Cada detalhe parece fazer infinita diferença, a ânsia omitida - porém mais que óbvia - de se estar perto, as conversas silenciosas dos olhos, o desejo descontrolado dos sorrisos vir à tona, assim como não conseguiria dizer como meus olhos conseguiam ver tão bem mesmo sem luz nenhuma... tantos são que não me atreveria em descrevê-los. Não por serem muitos, mas pela minha pouca capacidade de ser fiel às sensações com as palavras. Talvez isso explique
tanto silêncio, tanta necessidade de toque e as primícias dos dedos entrelaçados de tanto tempo atrás - que até então pouco sentido tinha -, porque só o estar perto basta.
Mas minha mente, essa sim, todas as noites descreve-me tudo o que faz falta. Enche o travesseiro de suas esperanças, de suas saudades (dos braços confundindo-se, que me mantinham perto, do peito que me era como o melhor aconchego, dos beijos inesperados); do mais clichê ao completamente fora dos padrões, do mais fácil ao mais complicado possível, do que faz rir mas dói de chorar. Tudo num só.
Não bastariam essas, nem todas as outras palavras, se não o fizessem rir. Muito menos se essas o tornassem mais distante. Por esse motivo que agora o silêncio é cortante, porque são as palavras que nos fazem perto.
E, se me lembra você, até a areia da praia me faz sorrir (ainda que com uma dor no peito). Assim como todas as músicas.