quinta-feira, 23 de dezembro de 2010




Ando desistindo, ando me desmanchando, ando sentindo falta, ando sendo esquecida, ando lembrando, ando chorando; ando, paro, penso, descanso.

sábado, 18 de dezembro de 2010

Oblíqua e dissimulada.

        Era ela; e estava de volta! Mais atenta e curiosa do que qualquer outra que já vi. Seus cabelos ondulados desgrenadamente presos, quase completamente soltos, pareciam uma moldura para o rosto. Eu gostava de como ela me insistia dizer, por pura curiosidade, uma bobagem qualquer que eu omitia. E eu omitia exatamente porque gostava.
        - Anda, seu bobo! Não tem graça. Você prometeu que me diria, então pode ir falando - ela me implorou. Começou risonha; brincando. Mas terminou a frase querendo parecer brava comigo; não conseguiu exatamente, o que me fez rir. Carregava consigo o fardo de mulher formada, mas tinha o lado doce de criança.
        - Um dia você vai saber. - disse tentando fazer com que ela continuasse com aquela cara de curiosa. Não consegui. Fez menção de que ia me dar uma bronca ao colocar as mão na cintura e bater o pé, mas não o fez.
        Continuamos no nosso caminho. Sua voz, mesmo mudando frequentemente de tom, me alarmava; era uma bela melodia, mesmo com a sua insistência dizendo-me que é "tenebrosa". Entre um ou outro que aparecia para lhe cumprimentar, ela tinha uma feição diferente. Era estranho... ao mesmo tempo que seus olhos conseguiam perceber pequenos detalhes - mesmo com sua miopia - também ficavam dispersos, vagos, olhando para o nada, como se estivesse longe.
        - E então, mais um feliz acaso, não é? - perguntei pra ela, tentando tirá-la do transe. Sempre funcionava.
        - Ah, claro. O acaso é meio bipolar conosco, não é? Às vezes nosso amigo, às vezes faz o máximo pra não nos encontrarmos. - falou como se estivesse com a cabeça na terra o tempo todo, como se não tivesse ido para tão distante dentro da sua mente. Ela se dava bem com as palavras, era boa em argumentos. Tinha um ar de inteligência humilde. Falou sorrindo, quase saltitante. Mas era a pior hora...
        Quando veio abraçar-me, foi quando percebi seus olhos. Percebi novamente, como da primeira vez. Aqueles olhos de cores estranhas. Inquietos e fundos. Olhos de ressaca...
        - Querida Capitu. - disse-lhe enfim. Sabia o quanto ela amava esse apelido. Ele por si só conseguia lhe descrever boa parte.

Nota: esse diálogo não foi retirado do livro Dom Casmurro, é um resumo de diálogos reais e também a união de vários acontecimentos, coisas subentendidas. A Capitu dele só é "baseada" na do livro e ela tem esse apelido.
Diálogo de minha autoria com algumas ajudas especiais.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Dois eus sós num só.

Ela: quer me aturar um pouco?
Ele: estou disposto.
Ela: e aí, tudo bem?
Ele: tudo. Está triste?
Ela: só um pouco depressiva por estar carente nesse clima perfeito com músicas lindas tocando e vendo casais felizes - disse, mesmo sem ele podendo ver, com um riso tristonho.
Ele: acho que é mais ou menos como me sinto quando vejo minha amada. Às vezes não consigo reagir.
Ela: E eu queria ter alguém pra amar. Você já tem essa sorte e ainda mais por vê-la.
Ele: mas não é recíproco. (...) É verdade, só o fato de estar apaixonado já é melhor.
Ela: o problema é que eu já me acostumei com isso. Eu tenho necessidade de me sentir amada. De sentir carinhos e poder retribuir.
Ele: sou assim também. Hipercarente e carinhoso.
Ela: e essa é a época do ano mais aconchegante para isso. Mas meu problema é esperar um principe num cavalo branco (ou num uno azul, quem sabe)
Ele: bem, porque não pega o seu cross fox e vai buscar o seu plebeu, princesa?
Ela: o império foi derrubado, a cavalaria foi derrotada, o trono foi tomado. E a princesa virou uma simples camponesa.
Ele: melhor assim, agora vai saber quem são os moços camponeses de puro coração que vivem perto de você. Ou até mesmo de outro Reino.
Ela: meu reino foi visitado por vários outros e cada um destruiu parte do meu. Aprendi a ficar receosa com cada um que se aproxima demais. E os camponeses que passaram, se tornaram rebeldes, queriam descobrir o resto do mundo e não ficar num só reino.
Ele: há de aparecer um, que tenha o dom de reconstruir corações partidos e refazer laços e confiança, se dedicarão somente a essa tal camponesa de bela voz e olhos de ressaca.
Ela: eu digo o mesmo a você. Você é doce e merece uma princesa liberal. Enquanto isso, vou tentar acalmar meus ânimos. Sabe, é difícil sem ter um abraço e um sorriso só pra você.
Ele: estarei sempre aqui, não sou de largar as pessoas, sabe?
Ela: poxa, obrigada mesmo. Eu sei o quanto garota carente é chata.
Ele: não acho, me identifico, é bom saber que não estou sozinho.

Legenda    
Ela: observadora
Ele: mochileiro