domingo, 4 de novembro de 2012

Velhos de apenas vinte e seis

Costumava gostar de sentar e observar as pessoas que passavam. Gostava de observar a conversa dos seus. Admirar os sorrisos. Estudar suas expressões. Ficava calada, mas gostava daquela bagunça. Da música ao fundo, dos garotos discutindo regras de um jogo qualquer. Das meninas rindo alto de alguma piada sem graça.
Mas, agora, lá, sentada sozinha.
Sentia-se incomodada. Esforçava-se para ficar. Desgastava-se tentando sorrir. E, quando desconcentrava, lá estava, cabisbaixa de novo. Não gostava daquela bagunça. As pessoas sequer lhe dirigiam uma palavra. Detestava aqueles risos altos para chamar atenção de quem passasse por perto.
Envelhecera depressa.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Fez-se chamas


Esse é apenas mais um que foi digitado, apagado, redigido, impresso, amassado e reescrito tantas vezes que se perde as contas. Mas depois a mente se cansa de disfarçar, os dedos param de desobedecer e então as palavras saem. E fluem. E dizem o que há tempos tentava. E aí lê, relê, respira fundo e sorri. Põe num envelope, escreve à mão o destinatário. E, à caminho do correio, o faz se consumir em fogo. E jamais alguém lerá tais palavras.