quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Gratidão

Embora não houvesse como o outro saber, passava-se na mente de ambos os mesmos tipos de pensamentos. Ela, depois de uma noite sentindo como se fossem um só e acompanhando um mesmo ritmo, sempre tirava alguns minutos assim que sentia os primeiros suspiros de um sono profundo daquele que estava como uma criança dormindo nos seus braços para pensar e agradecer a sorte que tivera. Por tudo. Pelo momento em que tudo começou, apesar de até hoje não saber quando foi. Pelo crescimento. Por terem se escolhido. Agradecia o sentimento por trás de cada gesto, beijo, abraço ou "tá tudo bem?".
Ela costumava ficar alí, sentindo seus dedos passar por entre os cabelos, observando cada centímetro da união dos seus corpos despidos e agradecendo pela paz tudo isso lhe causava. Agradecia por aquela pessoa a quem pertencia sua saudade, com quem jamais se importaria de dividir um colchão, a quem jamais contestaria um carinho, e onde encontrou seu melhor. E dormia esperando acordar pra ver aquele sorriso para ela de novo.
Ela poderia até - fingir - não entender, mas por trás daquele olhar dele de desejo pelo seu corpo, por trás do sorriso de canto de boca, das piadas e de toda aquela casca de criança que esqueceu de crescer estava todo o sentimento que, embora verbalizado, transbordava em gestos. Em olhares, em mãos. Em, um, ao acordar: bom dia, meu amor.
De um lado, ela sabia da sorte de encontrar alguém, e ainda mais de tê-lo encontrado. De ter pra si um motivo de sorrisos, alguém que seja inteiro e com quem queira ser dois inteiros juntos. Ela sabia que embora serem palavras diferentes, eles rimavam. Embora fossem de ritmos diferentes, o featuring que formavam funcionava como um bom sucesso. De outro lado, embora não entendesse o porquê, ela sabia que ele sentia ter essa sorte ao olhá-la aos seus braços também, ou ao vê-la rindo como se nada de ruim pudesse afetá-la. E agradecia, mesmo achando que a sorte era na verdade dela, por ele sentir essa gratidão também.
É, são trevos de quatro folhas.

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Palavras não ditas

Desculpe-me por deixar-nos nesse silêncio, por permanecer cheia de lágrimas nos olhos com a mão na sua nuca, mexendo no seu cabelo, te observando dirigir de volta pra cada. Desculpa se minhas poucas palavras foram inexpressivas diante do furacão que estava meu peito. Porém, espero que não seja tarde demais para finalmente dizê-las. Na verdade, escrevê-las.
Gostaria de ter te dito o quanto, a cada dia mais que passei ao seu lado, te observando dormir, te fazendo dormir, sendo sua companhia, sentindo seu beijo, gosto, carinho e cheiro, eu tenho certeza de que é com você que quero estar. Naquele exato momento, queria ter te dito que, apesar das últimas horas de muitas lágrimas e maus momentos, eu estava completamente grata por te ter do meu lado alí, me ajudando. Queria ter atendido ao seu pedido de conversar pra te manter acordado tentando te explicar todo o bem que você me faz, o quanto eu me sinto mais leve por saber que eu te tenho comigo e todo o amor que transborda de mim.
Há dois meses eu tinha certeza que era meu último dia ao seu lado antes de me despedir novamente, e quando me vi tendo - apesar das péssimas circunstâncias - mais algumas horas pra poder dizer e fazer tudo que estava entalado em mim. Porém, eu só te observei, desejando-te todos os dias, te vi dormir e te quis assim perto todas as noites, te vi sorrir e soube que minhas palavras silenciadas mereciam serem ditas.
Sim, agora sessenta dias parece tempo demais. E eu só consigo fazer uma contagem regressiva para retornar aos seus braços.
Novamente, perdoe-me o silêncio.

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Insípidas palavras

Quanto mais procuro achar as palavras certas para dizer, mais uma página em branco na minha frente se torna difícil demais de observar, ou talvez seja pelas lágrimas nos meus olhos. Ou talvez eu não consiga mais escrever como antes. Ou até seja coisa demais para dizer e as palavras acabam confundindo-se.
Eu nunca consegui imaginar que eu me sentiria menos inteira sem alguém do meu lado. Nunca pensei que fosse capaz de depender tanto do cheiro de outra pessoa para me sentir bem. Por mais que eu tente, não consigo transbordar em palavras, elas perderam todo o seu poder diante do que eu sinto. E é exatamente por isso que a ausência é de uma dor insuportável: uma vez estando presente, as palavras não são as coisas mais importantes, mas sim os sentidos; longe, eu preciso saber organizar cada letra.
Os clichês sempre são insípidos, porém como explicar sentir-me vazia longe dos braços, beijos, sussurros e sorrisos sem me tornar piegas? Como demonstrar que o meu peito dói, esmaga, a cada passo de distância, a cada metro, quilômetro e milha?
Longe, dor, saudade, pressa, cansaço, tristeza.
Perto, paz, alegria, calma, fortaleza. Amor.
Prefiro perto. Do seu carinho, do seu cheiro, da sua boca. Da calma dos seus braços, dos sorrisos nos seus lábios. Do seu amor. Do nosso.
E longe, continuo com pressa para que quando a dor passar eu peça que cada dia passe como uma eternidade ao seu lado.


Obrigada por me fazer inteira, por despertar a melhor parte de mim.
Obrigada pela sua amizade, companheirismo, amor e presença, mesmo agora tão longe.

sábado, 2 de agosto de 2014

Abriu os olhos e tentou focar o quarto quase completamente branco em sua volta, com exceção da parede em sua frente que tinha uma diversidade de traços, formas e cores. Desistiu de acostumar-se com a claridade que insistia em passar entre as cortinas fechadas e, tornando a fechar os olhos, procurou com as mãos pela cama os braços, pernas, boca, mãos de quem tem tornado os últimos dias, meses e anos melhores do que jamais sonhara em ter. Não encontrou mais nada além da coberta que a cobria. Estava só. No quarto, eram só ela, a coberta, suas roupas espalhadas pelo chão e as lembranças frescas da última noite.
Ainda tentando despertar, deixou-se repassar cada detalhe das últimas horas. Flashes de luzes brancas e coloridas. As músicas. Os sorrisos. Os corpos no mesmo ritmo. A sensação de ser tirada no chão e carregada pelos braços. Seu corpo contra a parede. Novamente no mesmo ritmo. Novos sorrisos. As respirações profundas e sincronizadas. O êxtase. O delírio. O silêncio da conversa dos olhos e mãos depois de um pouco de barulho. Sono interrompido somente por aqueles braços que a puxava para mais perto no meio da noite.
Tentou concentrar-se. Pegou o celular e no lugar de descobrir que horas eram, deu de cara com um post it colado e escrito com aquela letra conhecida: melhor olhar a última foto em que foi marcada. Sem acreditar, desgrudou o papel e se viu numa foto, na cama que estava, coberta apenas com um lençol branco fino, as costas à mostra e uma legenda "você estava tão linda dormindo que, depois de minutos te vendo dormir, simplesmente não consegui te acordar. Veste alguma coisa (haha) e desce que eu estou precisando de um beijo. Ps: não me mate pela foto. Ps2: não, eu não vou excluir".
Sim, o matarei, e, sim, vai excluir - pensou, mas com um sorriso enorme no rosto e os olhos já cheios de lágrimas.
Levantou, vestiu uma camiseta dele, prendeu o cabelo curto demais para ficar completamente preso, escovou os dentes e desceu. Abriu a porta e seu rosto era uma mistura de sorriso e lágrimas.
Parabéns! Vê se não esquece que eu te amo. E cada dia mais.
E, baixinho, no ouvido: você está linda.
Sua única resposta foram um beijo e um abraço demorado. Ela sabia que era ali que queria estar sempre.

terça-feira, 8 de julho de 2014

Saudade

Mesmo que tentasse conter pelo menos um pouco, era visível no rosto dela a ânsia, o desejo, a pressa de tê-lo perto. Noites mal dormidas são pouco para explicar. Duas horas lhe pareceram uma eternidade para se esperar.
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Para entender a saudade, precisa-se entendê-los. Entender o vai e vem dos dois: uma vida inteira de meros flashes de recordações tornadas em afeto repentino (mesmo que não exatamente), quebrados por um ano de saudade, seguido por algumas semanas de sonhos realizados, mais duas semanas de saudade, uns três meses de rotina completa à dois, dois meses de incertezas e distâncias e, por fim, duas semanas que os uniu mais do que nunca.
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Cada passo que dava na direção dele parecia querer lhe arrancar à força um sorriso. Era a distância diminuindo, era a dor se esvaindo. Ela sentia ele por ali, sabia que ele estava a observando. Quando, enfim, se permitiu levantar a cabeça, pôde ver, inquestionavelmente a pessoa mais alta naquele canto com o sorriso mais bonito, fitando-a.
A falta era por inteiro; do que tiveram e do que não podem ter. Abraços, minutos inteiros no silêncio da troca de olhares, a rotina, a preguiça, os sorrisos bobos. Difícil descrever o que os fizera mais feliz; Uma tarde inteira como duas crianças num fliperama; Um dia passeando pelos lugares bonitos da cidade; Ou como dois adolescentes de bicicleta num parque. Quem sabe até as tardes e noites de filmes, as noites mal dormidas (ou bem dormidas um ou lado do outro), os jogos, os amigos juntos...
Tudo que sentia em relação à ele era devastador. A paixão, a dor, o medo, a saudade, a alegria, o amor, a admiração. Tudo era de forma exagerada. E, exageradamente, eles tinham um ao outro. Devastadoramente rápido, complicado e complexo.
Assim, cada simples dia para era absurdamente necessário. Cada gesto, cada detalhe que é despercebido por aqueles que tem o privilégio de estar junto, para ela era infinitamente encantador. Cada simples olhar, sorriso sem motivo, cada entrelaçar de dedos, pernas, cada toque, beijo, abraço...
Ela conseguia ver a sinceridade nos olhos dele. O cuidado em seu jeito de falar. O seu desejo naquele irresistível sorriso de canto de boca. O amava mais a cada conversa, a cada novo detalhe descoberto, a cada novo segredo deixado pra trás, a cada nova intimidade.
Surpreendeu-a como ninguém conseguiu, amou-a de volta. E ela, entre seus devaneios e delírios mais reis do que nunca, ouviu a música onde tudo começara.
A ausência ensinou-lhes a aproveitar a presença. O medo de perder tornou-se certeza de voltar. A dor por estar longe transformou-se em força pra continuar.